17 agosto 2009

Cartão Azul

O título desta "crónica" esteve para ser "O respeitinho é muito bonito". Mas no final do jogo de ontem, depois do empate arrancado a ferros pelo reforço (que é reforço) Weldon, o sentimento que se destacou entre as hostes benfiquistas foi mesmo o de raiva contra o anti-jogo praticado pela formação madeirense.

Apesar de não ser bonito, não se pode recriminar um treinador de uma equipa como o Marítimo, que reconhece a superioridade do Benfica, e que por isso adopta uma táctica hiper-defensiva, apostando apenas na velocidade de 1 ou 2 homens para tentar chegar perto da baliza encarnada.

E como o "respeitinho é muito bonito", foi bonito ontem ver que, ao contrário da época passada, os madeirenses entraram em campo com "medo" do Benfica. Não pretenderam assumir o jogo, porque sabiam não ter argumentos para o fazer, nem sequer para o discutir de igual para igual em determinados períodos.

Em muitas ocasiões, nas últimas épocas, os adeptos do Benfica tiveram que assistir em pleno Estádio da Luz, a equipas atrevidas que pegavam no jogo e manietavam os encarnados (por vezes poderia mesmo haver dúvidas sobre quem estaria a jogar em casa, sobre qual seria afinal, em teoria, a equipa eterna candidata ao título nacional). Essa passividade encarnada desapareceu, e ontem, mesmo durante a primeira parte, na qual o Benfica teve mais dificuldades em jogar, as estatísticas não mentem... a única equipa que procurou o golo foi a encarnada, uma posse de bola esmagadora (cerca de 75%) e, apesar da exibição mais pálida, pelo menos duas oportunidades claras de golo (remate à barra de Aimar na sequência de um livre e remate cruzado da esquerda de Di Maria a obrigar a uma das inúmeras boas defesas do guardião maritimista).

Ontem não, o Marítimo não foi audaz, nem tinha que o ser... Limitou-se a cerrar fileiras e a defender com 11, em 40 metros de terreno. E nestas circunstâncias, caberá sempre ao Benfica conseguir desmontar este tipo de estratégia e encontrar espaço onde ele aparentemente não exista... especialmente agora que todos parecem respeitar o clube da águia!

O que já não é aceitável, são as práticas correntes de "queimar tempo". Os jogadores do Marítimo passaram minutos e minutos no chão: pseudo-lesões, cãibras, choques aparatosos, dores no ombro que nem sequer havia sido o atingido na sequência de uma pretensa falta dos encarnados, reposições da bola em jogo que tardavam sempre mais de meio minuto...

Um espectáculo lamentável, apenas visto nos campos portugueses. Protegido pelos árbitros e pela imprensa, que durante grande parte do jogo teve o descaramento de enaltecer a qualidade da equipa do Marítimo e até a sua experiência e matreirice na forma como encarou os lances... Talvez se trate de uma questão cultural, mas quando se fala de proteger o futebol espectáculo e a verdade desportiva, urge combater estas situações. Implacavelmente.

Várias opções se levantam para abordar este problema:

1) Manter tudo como está e apostar na capacidade do juiz da partida de avaliar quanto tempo útil se perde nestas situações... Claramente não resulta... raramente o tempo extra ultrapassa os 4 ou 5 minutos, claramente escasso para compensar o tempo perdido;

2) Revolucionar o jogo e adoptar como referência o tempo útil. A duração do encontro seria diminuída (25 minutos cada parte?) e o relógio deveria parar sempre que a bola não esteja em jogo. Esta solução teria implicações profundas em termos tácticos e em termos de cultura de jogo.

3) Os jogadores, com permissão do árbitro, são assistidos pelas respectivas equipas médicas e o jogo continua a decorrer normalmente. Esta opção tem um grande ponto contra, tendo em conta que poderá beneficiar o infractor (a equipa que comete a falta, acaba por estar temporariamente em vantagem numérica).

4) Implementar o "Cartão Azul". Há alguns anos atrás, no hóquei em patins, a um jogador que cometesse uma falta mais grave, era-lhe exibido o cartão azul, sendo excluído do jogo por um período de 2 minutos, ficando a equipa respectiva com menos um jogador em campo. Aqui o princípio seria distinto e poderia ter dupla aplicação... um jogador ao cometer uma falta passível de admoestação por cartão amarelo, seria forçado a sair de campo por um período de 5 minutos. Esta medida talvez reduzisse o ímpeto excessivo de alguns jogadores na sua abordagem aos lances. Pelo contrário, um jogador lesionado (ou que simule uma lesão), após interrupção do jogo seria de imediato retirado das 4 linhas e teria obrigatoriamente que permanecer fora do jogo durante 2 minutos. Nos casos em que um jogador esteja efectivamente lesionado, 2 minutos é o tempo óptimo para se conseguir refazer da dita lesão (por seu lado, o adversário que o lesionou, provavelmente também estará de fora, caso tenha sido admoestado com o cartão amarelo ou caso tenha sido menos correcto). Caso se tratasse de uma simulação em que as pseudo-lesões ocorrem ao mínimo toque, a saída obrigatória durante 2 minutos acabaria por prejudicar a própria equipa, que se veria em situação de inferioridade numérica. Esta dupla medida não teria qualquer impacto sobre o desenrolar normal do jogo e acabaria com muitos dos tempos mortos a que se assiste no futebol português, eliminando as práticas de anti-jogo gritante. A única situação de excepção seria a dos guarda-redes, muito mais facilmente controlável pelo árbitro do jogo, e por todos os que estejam a assistir à partida.

Declaro aberta a guerra ao anti-jogo!

Do jogo de ontem, ressalta ainda a força anímica da equipa do Benfica, que, pela primeira vez em situação (injusta) de desvantagem lutou e acreditou sempre, "massacrando" o adversário que só com muita sorte conseguiu sair da Luz com um empate.

Um início de época que, noutros anos e na língua de Cervantes, se poderia dizer, começa com "muita ilusão", como atesta a praticamente casa cheia ontem na Luz, com cerca de 55.000 pessoas vestidas de vermelho a empurrar as águias para a vitória. Uma primeira jornada em que os 3 grandes empataram. FCP e SCP tiveram a sorte do seu lado para chegarem ao empate nas respectivas partidas, o Benfica a "maldição" de não se conseguir desde já adiantar e, ao contrário dos adversários, com manifesta falta de sorte neste seu jogo de estreia.

Quinta-feira há Liga Europa (ou se se preferir, Taça UEFA) contra um adversário de nome impronunciável...

Força Benfica!

Saudações cativas.

Um comentário:

teste disse...

O que eu defendo é que o problema do anti-jogo não está nas regras, está na atitude das pessoas que lideram o nosso futebol e nos próprios adeptos.

E sou constantemente criticado por dizer mal do jogadores do Benfica que perdem tempo quando estão a ganhar e que simulam faltas, os adeptos têm de ser mais exigentes, da mesma forma que os dirigentes têm de ser mais sérios na abordagem ao futebol, para o bem de todos.