21 janeiro 2008

O desejo de um Benfica vitorioso

Tenho estado em “retiro benfiquista” antes de me dedicar a escrever estas linhas. Esse “retiro” fez-me pensar um pouco acerca do que é que eu espero do Benfica, o que é o Benfica e o que poderá ser o Benfica.

Eu espero que o Benfica seja um clube virado para os adeptos e para os associados e que não seja um clube contra quem quer que seja, e aqui refiro que espero o mesmo dos seus adeptos, eu sou benfiquista e não anti-portista ou anti-sportinguista, e esta é uma filosofia que se vai perdendo com o tempo e com estes extremismos que, bem aproveitados pelo FC Porto, têm feito mazelas nas bandas da Luz. Quero por isso um Benfica mais positivo e mais assertivo nas suas convicções, mais merecedor da sua tão falada mística. Eu quero um clube que, independentemente da modalidade, prefira jogar bem e com espírito de ganhar a ganhar a qualquer custo, não quero com isto dizer que gosto de perder, não gosto, mas acho que as competições, sejam elas quais forem, devem ser encaradas com um espírito vencedor, e esse espírito vencedor associado a um nível mínimo de qualidade dos intervenientes é sinónimo de vitórias na maioria dos casos, ao passo que o espírito de serviços mínimos e de ganhar de qualquer maneira é sinónimo de derrotas em maior número que o desejado.

Serve esta introdução para dizer que é difícil ver o Benfica jogar por esta altura, há jogadores, há treinador, mas não há dinâmica de vitória, há alguma vontade de ganhar mas não há discernimento para o conseguir. Tenho muitas dúvidas de que as coisas no balneário do Benfica estejam em boa forma, mas tenho uma visão completamente antagónica da maioria das pessoas acerca deste caso Luisão/Katsouranis, em primeiro lugar acho que o que aconteceu não deveria de acontecer e não dignifica a camisola do Benfica, mas não me parece tenha sido algo assim tão escandaloso como se andou por aí a falar (absurdos como "não são dignos de vestir o manto sagrado", são no mínimo ridículos), são coisas que, tal como o Katsouranis referiu, acontecem frequentemente nos treinos e que são sinal de duas coisas, uma negativa, são impulsivos e reagem a quente a situações extremas de stress, outra positiva, são jogadores que reagem a situações destas porque as coisas não estão a correr bem e isso não lhe é indiferente, sentem a pressão e a vontade de fazer melhor. E é isso que quero tirar como positivo de todas estas exibições e resultados, as coisas não correm bem mas isso não é indiferente aos jogadores, não há coisa que deteste mais nos jogadores do que a apatia perante adversidades.

Agora o que me parece que não está a funcionar. Primeiro, não há uma política desportiva definida, nem uma figura que o seja capaz de implementar num médio prazo. O presidente Luís Filipe Vieira é, na minha opinião, alguém a quem o Benfica deve muito, a recuperação financeira e económica foi da sua completa responsabilidade, mas é alguém que tem grandes dificuldades de comunicação e de gestão de processos delicados. Temos um balneário com demasiados "patrões" (depois de tantos anos com deficit...) e parece-me claramente que há aqui um conflito de personalidades pelo controle do balneário, Nuno Gomes, Rui Costa, Petit, Luisão são nomes a mais para um poleiro só. O processo "Rui Costa a presidente" parecia uma brincadeira mas penso que pode estar a deixar marcas na equipa, o conflito de personalidades entre o Rui e o Camacho parece-me por demais evidente e a ideia de que Rui Costa possa ser o próximo director desportivo pode ser, tal como diz o "Mestre" Rui Santos, difícil para Camacho engolir e as movimentações que se atribuem actualmente ao Rui podem ser já motivo de conflito, aqui parece-me que quem fica mal na fotografia é o Rui e o LFV, não gostei do Rui a "mandar vir" com o Nandinho e não gosto desta posição de oposição que o Rui parece defender no balneário. Não quero no entanto deixar de frisar toda a minha admiração pelo Rui Costa, como jogador, que foi e que ainda é,talvez o nosso melhor a seguir ao Petit (hei-de explicar esta minha opinião noutro post), e como homem e benfiquista, serei o primeiro a defender a sua passagem natural para director desportivo, mas apenas quando chegar o fim da época, para já era bom que se comportasse apenas como jogador.

Uma última palavra ainda acerca do caso Luisão/Katsouranis, acho que o presidente deveria ter defendido os jogadores tal como o fez o treinador, dizendo que cometeram um erro mas que não passava disso, eram multados e pronto, a suspensão preventiva foi ridícula, quem ficou a perder foi a equipa que se viu privada de um excelente jogador como o Katsouranis e que viu o Luisão jogar sobre brasas contra o Leixões.

Para o resto da época o que me assusta não são os 11 pontos de distância, o que me assusta são os sinais de instabilidade que não abrandam.

Saudações cativas.

2 comentários:

Anônimo disse...

De acordo, Ricardo. O grande e grave problema do Benfica não está (apenas) no treinador. Vem da ruinosa gestão desportiva que LFV parece não querer acalmar. Pelo contrário, cada dia uma nova promessa, cada dia a seguir, um desmentido nas acções do que foi dito, muito "gloriosamente". Todas as acções profissionais e económicas que foram feitas desde que LFV chegou ao Benfica não estão nem nunca estarão em causa. O que se pretende é que o Presidente do Benfica saiba delegar noutras pessoas as funções que se prendes única e exclusivamente com futebol, área onde claramente o presidente não se sabe mexer. Esta falta de humildade, esta arrogância, esta "fuga para a frente" só tem adiado a retoma desportiva e cada vez mais afundado o clube e a equipa de futebol num estranho desânimo, onde o treinador (elogiado por muitos como disciplinador e líder, em contraponto com Santos, por exemplo) parece dia após dia estar mais distante dos jogadores, e a equipa dos adeptos. A mudança tem de começar por cima, arranjando um benfiquista competente para liderar a área do futebol, mas terá de necessariamente passar também pelo treinador, homem claramente incapaz de fazer face aos problemas que o futebol actual levanta. Um mau treinador, sem uma ideia que se veja sobre o que quer para a equipa de futebol. Se é certo que o plantel não é maravilhoso, não deixa de ser verdade que o mesmo apresenta qualidade e que está a ser muito, MAS MUITO MESMO, mal aproveitado por Camacho. Não saber aproveitar o que tem é uma das culpas do castelhano. Mas, claro, repito, a mudança deve começar pelo camarote presidencial.

teste disse...

Caro Ricardo,

Da mesma forma que não devemos entrar em euforias com séries de vitórias o mesmo se pode dizer no inverso, ou seja, não é preciso fazer aquilo que tem acontecido no Benfica, pedir cabeças para rolar. Para mim as substituições devem acontecer no final dos contractos e no caso das presidências devem acontecer nas eleições.

Tenho dúvidas, muitas dúvidas, que a demissão do LFV neste momento possa resolver alguma coisa, o resultado lógico seria uma revolução que só teria resultados desportivos no médio prazo. Mais uma carrada de jogadores, novos treinadores, mais dispensas, etc, etc. porque era essa a exigência dos adeptos, mudança, e para ter alguma credibilidade o novo presidente teria de mudar. Prefiro que as coisas decorram naturalmente e sem rupturas, embora anseie naturalmente por resultados.

Saudações Benfiquistas.